Páginas

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Hebe em : Eu Morri Feliz

     Envelheci e as esperanças de ser feliz iam diminuindo, meu corpinho já não aguentava mais aquela corrente pesada em meu pescoço, minhas perninhas doíam tanto que com o tempo eu não conseguia mais movimentar e elas foram atrofiando.
    
      Não entendia porque minha família me acorrentou no canto do quintal, ainda mais eu, que mal andava, já não mais latia, não incomodava ninguém e não ocupava quase nenhum espaço, eu queria muito saber por quê fizeram isso comigo ? e mesmo assim eu gostava daquelas pessoas, eu abanava meu rabinho quando alguém jogava algumas migalhas para eu comer ou quando alguém passava por perto, eu queria um carinho, uma atenção, até uma bronca eu queria, pelo menos alguém olharia pra mim naquele cantinho, mesmo assim eu amava aquela família que tanto me maltratava.
    
     Quantos dias e quantas noites passei frio, fome e sede, meu corpinho caquético parecia que iria quebrar de tão frágil, minha sorte eram meus pêlos grandes, sujos e emaranhados que me aqueciam nas noites frias.
Eu por noites sozinhas pensava, "Onde está Deus ? Ele não me ama, o que fiz para merecer essa vida sofrida e solitária?"...

     Até que um dia recebemos umas visitas muito estranha, em Novembro de 2010, junto havia uma mulher (*Renata G. M. Perita Criminal), ela falava com voz firme e decidida ao telefone, e  me olhava naquele cantinho.
     Logo chegaram umas pessoas e me tiraram da corrente e me carregaram no colo até um carro grande e com pessoas estranhas, achei que seria meu fim, minha família nada fez, ninguém tentou impedir aquelas pessoas de me levarem embora, ninguém se despediu de mim, mesmo depois de tantos anos vivendo comigo, como não me amavam ? eu já estava banguelinha, surda e quase sem andar, sem poder me defender daquelas pessoas e nada fizeram, nenhuma despedida da minha família eu tive.
     Cheguei a um lugar muito estranho, cheio de grades e cães presos, eles latiam curiosos com minha chegada, achei que ali era o final de tudo.

     Fui recebida muito bem por umas moças, boazinhas e simpáticas, cortaram todo aqueles meus pêlos sujos, me deram um banho bem quentinho e uma comidinha muito gostosa, nunca tinha comido algo tão bom... nossa, quanto carinho recebi, tive um dia de princesa, não sei porquê, mas mudaram meu nome, ali me chamavam de Hebe, e eu gostei muito.
    
     Conheci uma amiga muito especial, chamavam ela de Matuza, ficávamos dentro de uma gaiolona, pelo menos eu me livrei daquela corrente, tinha água e comida gostosa à vontade, se demos muito bem, eu adorava minha nova amiga, eu lambia ela o dia todo pra demonstrar meu afeto e carinho... minha amiga era velhinha também, e tinha uma doença sem cura, e sua família também não à amava e ela foi abandonada naquele lugar.
    Ali passamos o Natal e Ano Novo, sozinhas.
    Um dia minha amiga não acordou bem, as pessoas davam remédios, mas ela não melhorava, não queria comer e sentia dores.
    Aquela noite foi muito triste, antes das pessoas irem embora, coloram bastante roupinhas e jornal para nos esquentar, mas durante a madrugada minha amiguinha se foi, estávamos sozinhas e nada pude fazer, ficamos ali até o amanhecer, até as pessoas chegarem e colorem minha amiga em um saco plástico branco.

    Me desesperei, porque eu também era velhinha e tinha a mesma doença nas tetinhas, e não tinha mais minha amiguinha para me fazer companhia.
    Fui enfraquecendo e perdendo a vontade de viver, não queria mais comer, eu tentava lutar, mas meu corpo já estava enfraquecido e não tinha muito espaço naquela gaiola pra eu andar e exercitar minhas pernas tão fracas.
    Eu estava tão fraquinha, tomei injeções e remédios e colocaram minha gaiola na sala onde ficava meus médicos, adorei lá, tinha gente o dia todo perto de mim, e era mais quentinho durante à noite.
    Até que um dia me tiraram daquela gaiola e me colocaram em um carro, dia 7 de Janeiro 2011, começava a mudança tudo de novo, mas eu não tinha nada à perder, não tinha família, não tinha mais minha amiga, só tinha medo de não ter os mesmos cuidados que eu recebia das pessoas e dos médicos.
    Pela primeira vez depois de mais de 15 anos eu iria ter uma mãe, e eu estava ansiosa para chegar e conhecer minha nova família, vim dormindo no carro.

      E la fui eu pra minha nova casa, fui recebida aos latidos e focinhos me cheirando, ganhei uma nova caminha, uma roupinha bem quentinha, cheguei e dormi muito, meu corpinho ainda estava fraco e cansado, mal conseguia me sustentar, eu caía até dentro da vasilha quando eu ia beber água, mas minha mãe me ajudava.
     Eu tinha uns dentinhos podres praticamente soltos que ficavam para fora da boca, que me impediam de comer direito e me deixava muito fedidinha, muito mesmo... mas com paciência minha mãe arrancou e cuidou direitinho, uma vez por semana eu tomava banho e ela sempre colocava um lacinho diferente em mim, eu ficava linda e cheirosa.
     Ganhei uma avó e um avô que me amavam também e mais 5 irmãos peludos, eu sempre que podia estava deitada com eles, eles me aqueciam... minha avó trocava minhas fraldinhas e me dava comida também.
    Os dias passaram e eu melhorava, comia bastante, mas o que eu gostava mesmo era de mortadela, salsicha e o leitinho quente, as vezes eu levantava de madrugada pra tomar meu leitinho,  e minha mãe esquentava pra mim.
     Eu andava muito, tinha bastante espaço para eu me exercitar, eu adorava andar, como era gostoso, eu não queria nem lembrar mais do cantinho do muro e da corrente, ou mesmo das gaiolas, eu queria era andar até de madrugada, comecei a subir e descer escadas, me sentir livre me fez muito bem, estava na minha carinha a mudança e a felicidade.
   
     Alguns meses se passaram e mesmo que meu corpinho estava forte, meu coração já estava chegando ao final;

     Dia 19 de Abril almocei bem, mas durante à tarde qualquer movimento que eu fazia, meu coraçãozinho desparava e eu cansava muito, não deu vontade de comer nada, minha mãe me deu de tudo, eu queria comer, mas a canseira era maior, e aos pouquinhos ela me deu comida na boca, e eu aquela noite dormi pertinho da cama dela.
    Acordei ainda cansada, fui dormir na cozinha com meu irmão, eu adorava dormir na companhia dele.
    De manhã minha mãe quis dar meu leitinho, mas eu não aguentava mais o cansaço e a falta de ar que doía meu peito, não quis almoçar também, vi que já estava chegando minha hora, tentei andar mais caí na sala, minha mãe me colocou na minha caminha, eu sentia a mão dela me abraçando, e eu à vi chorar e rezar por mim pedindo à Deus que eu descansasse em paz.
     Naquela hora eu conheci Deus e vi que ele me deu os últimos meses mais felizes da minha vida, com uma família que me amava, um final digno como qualquer cão deveria ter.
    
     Alí nas mãos da minha mãe eu morri, dia 20 de Abril 2011, protegida, sentindo o amor, o carinho e Deus me guiando para vida eterna.

     Aqui no meu novo mundo, o amor verdadeiro de um Ser Humano por um Animal, é a união da alma, uma força que nos une além do espírito, e é assim que vou esperar minha mãe até o dia do nosso reencontro.
                                
                                                              Lambeijos
                                                                 Hebe


30 comentários:

  1. Vc só me faz chorar Kekéeeeee

    Amo ler suas postagens, vc escreve muito bem !

    Bjoss

    Lucia M Matos.

    ResponderExcluir
  2. Nossa, Keké, tô chorando rios...
    Realmente ela foi feliz, pelo menos no final de tudo. Graças a Deus encontrou você!
    Beijos
    Telma

    ResponderExcluir
  3. olá!!

    Estou passando por aqui para convidar você para conhecer meu blog.

    Quando puder passe por lá, vai ser um prazer ter sua comapanhia.

    www.tatidesignercake.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Acabei de te adicionar e vc já me faz chorar tantooo !!
    Pena que nem todos tem a mesma sorte de morrer em paz dessa forma...
    bju

    Elisa

    ResponderExcluir
  5. Verdade Elisa, nem todos tem a mesma sorte de morrer em paz dessa forma...
    Mas as pessoas podem ter a sorte de ter um velhinho(a) por perto e poder dar um fim assim.
    Bjs no coração.

    ResponderExcluir
  6. Oi Keké
    É a Celia do orkut
    Voce me fez choraaar
    Que história linda viu, tomara Deus que as pessoas adotem muitos velhinhos no CCZ, pq
    ler histórias assim, incentiva a adoção, me deu até vontade de adotar mais um hihi, mas a cota de 10 já esta cheia .
    Parabéns pelo seu trabalho.
    Continue escrevendo, os peludos agradecem.
    Te admiro.

    Beijos

    ResponderExcluir
  7. Oi, querida! Ainda estou com lágrimas nos olhos! Fiquei emocionada desde o dia que você adotou a pequena e frágil Hebe. E agora, soube que ela se foi... Tenho uma certeza absoluta em minha vida: os meses que ela passou com você, sendo amada, protegida, cuidada, superaram os anos que ela sofreu. O amor faz milagres! E você fez um milagre na vida de sua pequena Hebe!
    Beijinhos,
    Lis e Sofia

    ResponderExcluir
  8. GENTE! QUE ESTÓRIA LINDA! QUE COMOVENTE! GRAÇAS A DEUS ELA TEVE UM FINAL FELIZ.

    REGINA

    ResponderExcluir
  9. Maravilhosa narração de uma vida quase sem vida, de uma alma bondosa que abraçou uma causa, dando ânimo a um ser vivo que não sabe se defender das maldades de certos seres humanos nada humanos, dando à cachorrinha Hebe a chance de ter um fim feliz. Deus vai lhe abençoar muito KEKÉ FLORES, pode esperar.

    Enedina

    ResponderExcluir
  10. Estou sem palavras apenas lágrimas e mais lágrimas, que alma bondosa a tua Keké, parabéns continue esta luta árdua mas linda demais.
    Que história mais comovente, e imagino que buraco deve ter ficado em seu coração, mas a luta é muito grande e difícil e é esta luta que a consolará, que bom que este anjo a conheceu ainda que por tão pouco tempo, porém tempo suficiente para conhecer a bondade, a solidariedade,a atenção, o carinho e o amor e melhor: pôde experimentá-los, vivê-los e ter no final de sua jornada neste vale de lágrimas uma partida digna!
    Que este anjo esteja num lugar muito especial de muita paz, bem quentinho e feliz e que você o anjo daqui da terra possa ter muitas realizações em sua incansável luta no bem estar animal,
    Que Deus a abençoe todos os dias de sua linda e útil vida.
    Bjs,

    Valéria

    ResponderExcluir
  11. Nossa, que história emocionante!
    Realmente KeKé, quem ama os animais se sente menos feliz nesse mundo.
    um grande abraço
    Mari

    ResponderExcluir
  12. Ai Keké, que triste que sua Hebe morreu.
    Chorei muito ao ler essa história linda, amo ler suas postagens, o jeito que escreve.
    Continue sempre assim, uma pessoa iluminada !

    Beijos
    Claudia

    ResponderExcluir
  13. NOSSA AMIGA CHOREI MTO,MTO MSM ,NOSSA ...SEM PALAVRAS...FIKA COM DEUS ANJO ABENÇOADO

    ResponderExcluir
  14. Triste história, chorei do começo ao fim. :(

    ResponderExcluir
  15. Como sofrem esses peludos nas mãos dos seres desumanos.
    Teclando agora vejo deitada em sua almofada a Yrani (eu a recolhi da rua a 2 anos), Encontrei-a na sarjeta com o rabo cortado a sangue frio e com uma pata traseira quebrada.
    Na outra almofada o Yuri, foi para um pet para ser vendido co 40 dias, ficando em uma gaiolinha 65 dias. Doente, desnutrido, sem conseguir andar, eu o adotei, pois o dono do pet não o queria mais.
    Hoje tenho um principe e uma princesa que me adotaram.

    ResponderExcluir
  16. Keké, nem sei como achei seu blog mas agora ele está nos meus favoritos, adorei suas histórias, suas lutas e adorei tbm te conhecer mesmo que rapidinho no sábado.
    Espero poder dar um final de vida digna como vc deu pra Hebe pra minha pequena, que ainda não veio pra casa mas que em breve vai fazer parte da minha família.
    Obrigada por cuidar dela com tanto carinho, foi inspirada na história da sua Hebe que eu decidi pegar a pequena.

    Beijos

    Ju

    ResponderExcluir
  17. To aqui chorando igual criança.Um dos mais lindos e emocionantes textos que já vi.
    Um grande abraço, fique com Deus.
    E pode estar certa de que nossos velhinhos nos esperam para o feliz reencontro...

    ResponderExcluir
  18. chorando... sem palavras, a garganta doi e choro, acho que um misto de tristeza, raiva, emoção e alegria de saber que Hebe conheceu o AMOR.

    Sol Cunha

    ResponderExcluir
  19. Olá, recebi o email da Francisca, agora li a história da Hebe, ai menina, é muita emoção num dia só....
    acredito também que nos encontraremos com nossos protegidos um dia, nunca ninguem disse isso na igreja nem li em lugar algum, mas é um sentimento que ultrapassa essas coisas que nos ensinam desde criança.

    Quando a minha cachorra Darah estava partindo, a única coisa que veio na minha cabeça foi olhar nos olhos dela, entre muitas lágrimas, e dizer que nós vamos nos encontrar um dia. Aquele momento ficou muito marcado pra mim..

    Que Deus abençõe toda alma que aprendeu amar, com a presença de um animal, e peço que Ele envie seus anjos caninos, felinos e de todas as espécies para ensinar aquelas outras almas que ainda não entenderam a lição.
    bjs no coração, Claudia

    ResponderExcluir
  20. olá boa noite tudo bem eu quero muito adotar um cachorro ou cachorra mas esta muito dificil pois a que eu tinha veio a falecer por idade eu estava com ela a 15 anos e ela sempre foi o meu bebe e agora eu procuro aguem que possa substituila pois se não tiver noçao eu ensinarei, como eu ensinei para o meu bebe muito obrigado se vc puder me ajudar ela era poodle branca e o nome dela era sofhia tenho muitas saudades quase tudo que faço me lembra ela por isso nescessito o mais rapido uma cachorra que eu possa amar de novo muito obrigado pela a sua atenção

    ResponderExcluir
  21. Keke li chorando muito!!! Todos os animais valem a pena, mas poucas pessoas sabem disso. Como é gostoso apertar nos braços num bichinho, ama-lo, Todo carinho dado a eles nos voltam de uma forma tão especial...
    Bjs. Célia Gandhi

    ResponderExcluir
  22. Mais vale alguns dias a mil, do que muitos a 10 \o/ Ela teve a sorte de ti conhecer e isso não tem preço !

    ResponderExcluir
  23. Tô chorando, KEKÉ. Você é linda...
    Nós te amamos muito !
    (Balú & Eu)

    ResponderExcluir
  24. Que lindo, parabéns!!! Tenho duas vira latas, uma adotei da Cão sem Dono, outra peguei no terminal de ônibus há cinco meses. São meus tesouros. Chorei com seu texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom saber que adotou uma duas virinhas. vc ganhou um presentão né..
      Parabens Roberto..

      Excluir
  25. Essa foi minha Hebe que eu amei tanto, e fiz tudo que eu pude para ela ter um final digno e feliz..
    Bigada pelas mensagens, e amei ver que muitas pessoas tbm ja adotaram cães idosos..
    bjos no coração..
    Keké

    ResponderExcluir