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terça-feira, 28 de junho de 2011

SINDROME DO PÂNICO : O PODER DA VENLAFAXINA

 Quem nunca teve um dia triste na vida,  ansiedade, medo, desespero,  e isso se transformar em uma angustia incontrolável...
Multiplica alguns desses sintomas por 1000.
Ta aí, bem vindo à Síndrome do Pânico !


Confesso que sempre tive vergonha de expor isso para as pessoas, para não ser julgada como louca, exagerada, digna de pena etc.. nomes que já cansei de ouvir.
Hoje abro essa página para contar como aceitei a conviver com à "Sindrome do Pânico", que apelidei como À COISA.


Em 1996, nos meus 20 anos, tudo ia bem, não tinha o que reclamar da vida,
Até que decidi fazer uma viajem,  eu e uma amiga fomos para Minas Gerais, foi o melhor Carnaval da minha vida, trio elétrico, festas, dias sem dormir, bebidas e Lança Perfume... uma combinação perfeita para detonar um cérebro que já estava a beira de virar uma bomba relógio.
A alegria me acompanhou até o ônibus de volta, preparada para 10 horas de viajem até chegar em minha casa.
Eu e minha amiga viemos dormindo, estavamos cansadérrimas, até que no meio da viajem a bomba explodiu, acordei com A Coisa.


A Coisa me possuiu dos pés a cabeça, meu corpo tremia por inteiro, meu coração parecia bateria de escola de samba, a sensação era que se eu colocasse a mão na boca eu arrancaria ele da garganta,  faltava ar,  a angustia e a ansiedade já multiplicadas tomavam conta do meu cérebro.
Acordei minha amiga aos prantos, estávamos sentadas nos primeiros bancos, onde o motorista me ouviu e tentando me acalmar disse que logo chegariámos na primeira parada... fiquei mais desesperada ainda, porque se ele disse a primeira, então ainda faltava horas para a segunda e mais horas para o final.
Desci na primeira parada, sentei no chão e chorei muito, tentando entender o que era aquilo que eu sentia, as pessoas comovidas tentavam me acalmar, mas nada e nenhuma palavra tirava aquela Coisa de mim, na hora não tive vergonha do meu pânico, também o que era vergonha ao meio de tantos adjetivos terríveis que eu estava sentindo... voltei ao ônibus, e chorando seguimos a viajem.
A estrada não tinha fim, e cada minuto passado, para mim se transformavam em horas, e a Coisa não me deixou em nenhum momento.

Ao entrar na minha casa, parecia que a Coisa tinha ficado no portão, descobri que minha casa era meu refúgio, foi a pior coisa que descobri, porque eu não queria mais sair de casa, e o medo da Coisa me pegar na rua, e eu demorar para chegar no meu refúgio, e ter que sentir a Coisa tudo de novo... a solução foi passar meses e meses dentro de casa.

Até que um dia a Coisa me atacou dentro do meu refúgio... o que fazer ? pra onde correr ?

Junto com a Coisa, aos poucos veio o TOC ( Transtorno Obsessivo Compulsivo) a Agorofobia, a Depressão e a Claustrofobia... não entendia como cabia tanta coisa dentro de um cérebro.. e demorou para eu descobrir o que realmente eu tinha, enquanto isso, fui tentando conviver com esse quinteto.


Tentei lutar contra a Coisa, mas não tinha lugar, não tinha hora, ela aparecia e me possuía a qualquer momento, até comandar minha vida e fazer com que eu virasse escrava dela.

Perdi emprego, namorado, amigos e a vida social, parei de viver e me entreguei ao quinteto.


Cheguei a conclusão que meu novo e único refúgio seria a morte, pensava que na minha passagem a Coisa ficaria aqui na terra, e eu ficaria livre dela na vida eterna.

Mas como eu faria para libertar meu espírito do corpo, sem sofrimento e dor ?


Minha mãe já havia me levado na igreja, em Centro Espírita, mas nada e ninguém conseguia me libertar daquilo, até que cheguei no limite, e pedi para minha mãe não me deixar sozinha, ou eu iria dar um fim naquilo, mesmo acreditando que pessoas que tiram a própria vida o destino é o *Umbral.... eu já acreditava que o Umbral seria muito melhor do que sentir a Coisa.

Na minha família nunca ninguém passou por coisas assim, era novo para nós, e até que a idéia de um psiquiatra veio de pessoas de fora.
Depois de meses eu iria sair na rua novamente e encarar o medo do medo.
Comecei meu tratamento com tarjas pretas e terapia de grupo.

E aos poucos  fui me libertando e começando a viver novamente, voltei a andar sozinha na rua e deixar de ser dependente da minha mãe.
Por conta própria fui diminuindo aquele arsenal de remédios, até um dia parar com tudo,  e achei que estava livre da Coisa, achei que o médico queria me intoxicar, e eu mesma me diagnostiquei.

Os anos se passaram, sempre o quinteto aparecia, mas num grau baixo, iam, voltavam, nunca fiquei livre dele, e assim fui estragando o cérebro, tupo para não tomar mais remédios.

A Claustrofobia foi a última que me largou, ou melhor.. achei que estava livre... mas me enganei... ela sempre aparecia quando eu menos esperava, não queria ser mais dependente de remédios, então não fiz tratamento, e foi assim, aos poucos que a Sindrome do Pânico veio novamente em minha vida.
Na estrada, no ônibus, no metrô, no dentista, até no meu sonho ela aparecia... e minha casa novamente meu refúgio.
Conheci uma Psicóloga que me ensinou a encarar de frente a Síndrome do Pânico, a encarar como uma doença, e que doenças são tratadas com remédios, e podem ter cura sim, e se caso não tenha, temos que aprender a conviver com a medicação.
Meu Neurologista me receitou a Venlafaxina, onde tomo todos os dias, e hoje sinto apenas medo da Coisa.


Aprendi a não ter vergonha disso, aprendi a falar não para as pessoas,  e a não me importar com que elas pensem, se acham engraçado, ou falam para eu parar de tomar meus remédios, se acham que é frescura ou loucura, pouco me importa, nem ligo para a opinião alheia.
Aprendi a não chorar por amizades e amores perdidos...
Aprendi a ser feliz do meu jeito, mesmo convivendo com a minha única companheira, à  Claustrofobia, e essa eu consigo driblar.
Aprendi a aceitar minha dependência da Venlafaxina, passo muito mal quando esqueço de toma-la, fico com fortes dores de cabeça,  tonturas e enjoo, no terceiro dia sem,  cheguei até a vomitar ....a tal chamada "Abstinência".


Não tenho vergonha de falar que eu não pego estrada, não entro em elevador, metrô, ônibus cheio e não encaro ainda um trânsito, tenho pavor da escuridão e que ainda tenho medo do "medo",  medo ainda de encarar muitas coisas. Tudo tem sua hora, e vou aos poucos conquistando a vida novamente.
Acordar de manhã e ver que a Coisa não faz parte da minha vida, é maravilhoso, acordo de bom humor e não tem dia feio, tá chovendo e frio, então o dia tá lindo..rs

Só sei dizer que estou muito feliz, e minha vida mudou depois da administração da Venlafaxina.
Nunca mais fui possída pela Coisa, tenho uma vida normal, mesmo me privando de algumas coisas, que não estão me fazendo falta alguma.
 Faço as coisas que gosto, e estou de bem comigo mesmo.

Pessoas não tomam remédios para hipertensão, diabetes, etc... eu tomo o meu para a Coisa, e assim a vida continua.
E hoje não preciso mentir quando tomo meu comprimido e alguém pergunta :
pra que é ?.... hoje eu falo de boca cheia : "É Venlafaxina para a Síndrome do Pânico" ! 
E Foda-se !


Agradeço à Deus, e principalmente aos meus pais e irmãs, que nunca me abandonaram nos momentos em que eu mais precisei.


Abs
Keké Flores

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Uma Luz Chamada Cléo

Em maio de 2011, minha família me pegou no colo e me colocaram dentro do carro, eu não enxergava e nem ouvia mais, e eu tinha um tumor imenso na minha tetinha, era um peso que atrapalhava até na hora de eu caminhar, eu estava lotada de pulgas e carrapatos, meus pelos eram feios e falhos, e peles secas caiam de mim, mas eu sentia todas as sensações, eu sentia frio, sentia fome e sede, e eu sentia muito soninho, mas eu não sentia dores.
Eu senti o movimento do carro e o cheirinho da família passeando comigo.
Família para mim, porque para eles eu era apenas um objeto velho, que serviu para alegrar as pessoas quando eu ainda era filhote, e aos poucos com o passar dos anos, sendo esquecida por todos.
Chegamos ao meu destino, Centro de Controle de Zoonoses, minha família queria pagar para a Veterinária Telma, me dar uma injeção para dormir e outra para eu descansar... a tia Telma por uns segundos olhou para mim e lembrou de outros casos, lembrou da poodle Hebe, que teve uma segunda chance.... sem questionar, me tirou da minha família e me mandou para um bainho e vários remédinhos, e minha família seguiu em frente, sem olhar para traz, sem ao menos se despedir de mim, ou me agradecer enquanto eu dei alegria à eles.
Ganhei uma segunda chance de Deus e da  tia Telma,  e ali minha vida começava de novo.

Eu passava o dia dormindo, a tia Keké me colocou roupinha e cobertorzinho, e uma plaquinha na minha gaiola, para nunca me deixar passar frio... e lá eu era bem cuidada... adorava as comidinhas que me davam, eu comia tudo e tomava bastante água.
Por telefone tia Keké me conseguiu uma nova  mãezinha, se chama Ju, num sábado ela foi me visitar, e a tia Keké todo dia passava uma mensagem pra ela, pra dizer como eu estava, mas eu ainda precisava castrar e tirar aquele tumor que tanto me atrapalhava, mas eu tinha que aguardar a reforma da sala de cirurgia do CCZ.
Então até chegar o dia da operação, fiquei na casa da tia Keké...
Eu gostei de lá, como eu era ceguinha, tinha bastante espaço para eu andar, a minha caminha era do lado da dela e eu sentia vários cachorrinhos me cheirando e até dormiam juntinho de mim à noite..
Lá eu comecei a latir, coisa que eu não fazia no CCZ, e andava muito durante a madrugada, mas a tia Keké me colocava na cama, e me segurava até eu dormir.
Eu adorava um leitinho e uma caminha...
Passei alguns dias muito bem de saúde e muito feliz, recebi muito carinho, e a minha futura mãe Ju, sempre preocupada com minha saúde e ansiosa para minha chegada, e a tia keké triste porque estava chegando o dia da minha operação e eu iria mudar para minha nova casa...
Alguns dias se passaram, e no começo de Junho acordei muito fraca e com muita falta de ar, não aguentava comer nada, a tia Keké trabalhava e nas horinhas vagas fazia inalação em mim.
Mas meu pulmão já não aguentava mais, à noite Tia Monica e tia Helô me visitaram, me medicaram, mas eu já não tinha força pra lutar mais.
Meu tumor já estava por dentro de mim, e nada poderia ser feito, eu queria descansar, eu não queria mais sofrer, e a falta de ar era imensa, líquidos já saiam da minha boca, e a tia Keké que teria que decidir meu destino...
Fomos todas ao CCZ, já era muito tarde.... e sozinhas dentro do carro, tia Keké conversou muito comigo, me explicou o meu destino e a decisão tão triste que ela teve que tomar, e eu entendi, ficamos abraçadas no silêncio e na escuridão, por minutos sentíamos as batidas dos nossos corações, e eu dormi...
Mas logo na sala eu acordei, e a dor e a falta de ar voltaram piores, e logo eu já estava na mesa esperando a minha passagem.
Sentindo o abraço da mão da minha tia keké se despedindo de mim, me senti segura e preparada... ali eu dormi e parti, uma passagem muito tranquila, meu espírito saiu daquele corpinho pequeno, e envelhecido pelo tempo, o ar entrava e eu enchia todo o meu pulmão, respirar era maravilhoso, meu ouvidos voltaram a ouvir e meus olhos a enxergar.. e a primeira coisa que enxerguei foram minhas protetoras... tia keké, tia Monica e tia Helô, cheirei cada uma e agradeci os cuidados e meus últimos dias que fui muito feliz.
E anjos lindos apareceram, radiantes e iluminados, me abraçaram, era uma energia boa e contagiante, me senti muito protegida e feliz,  não tem como explicar, e juntos seguimos a maravilhosa luz.
E foi assim que morri feliz.
Nunca é tarde para recomeçar.

Lambeijos Cléo







Eu cheguei assim no CCZ


Fui tosada e tomei um banho bem gostoso e quentinho, pelas meninas do banho e tosa.


E com muito carinho e amor na casa da tia Keké, apenas com alguns dias, fiquei assim..






Uma linda estórinha de uma luz que passou na minha vida.
E que me apaixonei em pouco tempo que ficamos juntas.

Para incentivar na adoção de cães idosos maltratados e abandonados pelos seus donos.
 
 
 
 
Por Keké Flores