Para não falar só de animais, e também para descontrair um pouco, vou contar uma história engraçada da minha infância, mas que naquela época não teve graça nenhuma.
Não me recordo muito bem a data, mas deve ter sido em meados de 1983 a tragédia do meu Natal.
Sempre fui uma criança muito espuleta e fácil de aprender as coisas, aprendi a escrever e a ler com 5 anos, passava nos testes de QI, e sempre os avançados (pelo menos naquela época rss), mas ninguém me ensinou e nem me falou que histórinhas e contos não eram verdades, e nem que o Papai Noel não existia.
Naquela época brincadeiras faziam parte da nossa infância, como pular corda, brincar de pega pega, de esconde esconde, amarelinha, bola, pipa e entre outros brinquedos como da Glaslite, Estrela, Grow etc, e esses passavam a propaganda na televisão, para encher os olhos das crianças e esvaziar o bolso dos pais.
Só que também ninguém me avisou que o tal do Papai Noel só trazia brinquedos caros para crianças cujos os pais tivessem condições de comprar.
E eu muito das inocêntes, num belo dia vendo tv, assisti a propaganda do famoso Peposo, um urso de pelúcia nada barato para o bolso da classe baixa. Meus olhinhos brilharam... pronto! começava ali a maratona do Natal.
Não tirar nota baixa na escola, comer toda a comida, não falar palavrões etc, porque a lenda dizia que criança mal educada não ganhava presente de Natal, tentei seguir a linha, eu achava que já estava inclusa na lista de presentes do velhinho, mas com certeza pra minha mãe eu não passava nem por perto hehehe..
Eu tinha duas vizinhas e amigas também de escola, estavamos na 1° série, a Flavia e a Renata, os nossos sonhos eram os mesmos, ganhar o PEPOSO de Natal, então escrevemos as "cartinhas para o Papai Noel", nunca tinha escrito uma cartinha, confesso que foi idéia delas, elas tinham aprendido a escrever naquele mesmo ano, e entregamos à mãe da Flavia para ela colocar na caixa do correio.
Os dias demoravam a passar, o Natal que nunca chegava e a ânsiedade tomava conta de nós.
O que a mãe da Flavia não sabia era, que das três, eu era a única que tinha uma família que não tinha condições alguma de comprar um presente caro de Natal. Os pais delas tinham o próprio comércio, carro, casa própria e condições financeiras de realizar sonhos de Natal.
Meu pai sempre foi um lutador, muito trabalhador, pagava o aluguel e as contas em dia, não deixava faltar o que comer e vestir (confesso que o vestir, a maioria das vezes era o famoso "simidão "), era assalariado, muita gente sabe do que eu estou falando rs...
Então chegou o tão esperado Natal, meu Deus, que alegria, minha família toda se reunia na minha casa, meus avós, tios e primos, eles faziam aquelas festas tipo Americana, que cada um trazia uma coisa rss..
Quando deu meia noite minha mãe gritou lá da sala : "Correm aqui, olhem o que o Papai Noel deixou ", juro que eu corri primeiro para o quintal, para ver se eu via o velho, o trenó e as renas..ruim heim...
Voltei correndo pra sala, la estavam várias caixas, e embrulhos coloridos, todos com nomes marcados, pois eu tinha mais duas irmãs mais velhas e vários primos todos na mesma faixa de idade.
E assim foram destribuindo os presentes, minha tia começou entregando dos meus primos, nisso as caixas grandes foram acabando, depois as médias e enfim ficaram as pequenas, e eu ainda esperando a minha, a angústia foi me dominando, pensei "Deus do céu, não cabe um Peposo nessas caixinhas", se fosse na época de hoje a esperança era a última que morreria, porque a esperança seria ganhar um cartão vale-compra dentro daquelas caixinhas rs..
Minha mãe me entregou uma caixinha fina e retangular no máximo de uns 20 centímetros, eu estava com um nó na garganta, uma decepção sem tamanho, mesmo assim abri, era um relóginho de pulso, na cor azul, dentro tinha o desenho da Mônica e o Cebolinha, o ponteiro dos segundos era um foguete girando, hoje sem meus óculos eu não saberia que desenho seria.
Pensei: "Acho que o Papai Noel não recebeu nossa cartinha, eu não fiz nada de errado, mas ta bom, fazer o que, antes isso do que nada". Não gostei nadinha do meu presentinho, minha mãe toda feliz veio e colocou no meu pulso, minhas irmãs e primos estavam na rua já, brincando com seus brinquedos e etc..
Maaas quando eu sai, me deparei com a Flávia e a Renata, e adivinha o que elas tinham na mão ?? O Peposo!!!
Comecei a chorar feito doida na rua, e olhando para o céu, na esperança de ver o Papai Noel e gritar : "Olha eu aquiiii, você trocou meu presente com alguéeemm" e nada do velho.. eu chorava mais ainda, todo mundo veio me consolar, e me convercer que o relógio era melhor que o Peposo, parei de chorar, meu vizinho que passava na rua viu a cena e parou, na expectativa de ser o ganhador da cena, falando que aquele relógio era lindo, tinha a Mônica blá blá blá...e me fez a tal pergunta : "que relógio lindo, que horas são?" BUÀAAAAAAA, ALÉM DE NÃO GANHAR MEU PEPOSO EU NÃO SABIA VER A HORA EM RELÓGIO DE PONTEIRO.
Eu na rua chorando, com a boca escorrendo baba e gritando alto: "PEPOOOOOOSO" rss.
Perdi a graça do Natal, cresci achando o Natal uma chatisse.
Também cresci com raiva daquele velho fiu duma égua, miserento, muquirana...nunca mais escrevi cartinhas. Escumunguei até a Mamãe Noela, as Renas e todo mundo que fazia parte da vida do Papai Noel hahahahaha...
PARTE II
NO NATAL DE 2009
Essa história ficou marcada entre algumas amigas, algumas me chaman até de Peposo, meus sobrinhos todo Natal me recordam do Peposo também.. ainda mais quando eles ganham relógios rss..
Mas em 2009 na véspera de Natal, minha amiga Tatinha me chamou em sua casa para fazer o cabelo de sua mãe, fui também dar um abraço de Natal nela e em sua família, que tenho um carinho imenso por todos, e todos por mim também, graças à Deus, passei algumas horas lá, meu sobrinho foi comigo.
Quando fui me despedir, todos se reuniram e me colocaram sentada no sofá e ficaram de pé todos na minha frente, a Tatinha veio com uma caixa imensa embrulhada pra presente, todos esperando eu abrir a caixa, na hora confesso que fiquei com um pouco de vergonha da situação, todos me olhando, ela, a irmã, o cunhado, a mãe, o pai e meu sobrinho, e eu com aquela cara de ai Jesuise rs..
Comecei a abrir a caixa, e dentro outra caixa, dentro um embrulho, e outro embrulho, só de embrulho tinham mais de dez, no último mandaram eu fechar os olhos e apertar e tentar adivinhar o que era, na minha cabeça não passava nada, achei que era aquelas bonequinhas japonesas onde as mãozinhas são de porcelana, só vinha isso na cabeça, tirei do embrulho ainda de olhos fechados, quando me pediram pra abrir... não acreditei no que vi... era o PEPOSOOO...
Por uns segundos veio o filme do Natal de 1983, e a cena atual, eles me olhando; Como uma família de amigos conseguira me presentear com um sonho antigo ? eu nem lembrava mais do Peposo!
Aquela cena com eles me olhando e o carinho deles por mim, me deixou sem fala, olhei pro Peposo, o abracei e comecei a chorar, e todos começaram a chorar também, todos eles, meu sobrinho me olhava chorando e com aquela cara de feliz, porque ele era o mais que se divertia com minha história em todo Natal. Agradeci tanto a Deus por ter colocado aquela família na minha vida e abracei todo mundo.
Vim embora com meu troféu na rua, me deu vontade de contar pro povo estranho que passava por mim, meu sobrinho as vezes ficava com vergonha, porque quando alguém passava bem perto de mim na rua, eu falava assim : " Sabe o que eu tenho aqui ? O PEPOOSO", hahahaha...
Cheguei em casa, minha mãe estava na cozinha fazendo a ceia de Natal, falei que eles me fizeram uma surpresa e tinham me presenteado com um sonho do passado, ela toda curiosa, quando tirei o Peposo do embrulho, minha mãe começou a chorar, me pediu desculpas por naquela época não tivera condições de comprar, tadinha, mas ao mesmo tempo ficou tão feliz que me abraçou chorando. Meu pai quando viu segurou o choro, porque ele não chora na nossa frente rs..
À noite quando minhas irmãs chegaram foi a mesma situação, quando tirei meu Peposo do embrulho a choradeira tudo de novo rss..
Só sei que todo mundo tirou foto com meu Peposo naquele Natal !
Não tem como eu contar essa história sem me emocionar.
Bigada Tatinha e sua família pelo Natal mais feliz da minha vida !